Sabendo disso, o professor Dr. José Antonio Vianna, preparou o material abaixo para explicar um pouco sobre o assunto.
Uma ótima leitura e bom aprendizado!
Oss...
---
O conceito de mobilidade e o conceito de flexibilidade estão relacionados à capacidade de executar movimentos articulares o mais amplamente possível e à capacidade elástica de músculos, ligamentos, tendões e cápsulas articulares. Pode ser citada como benefícios do treinamento da mobilidade e da flexibilidade a maior amplitude de execução dos movimentos, o relaxamento da musculatura antagonista à execução dos golpes favorecendo a produção da força rápida, a melhoria na execução da técnica e a prevenção de lesões. Utilizaremos a seguir o termo flexibilidade para abordar estas questões.
Para obter ganhos na flexibilidade do atleta o treinamento deve ser diário e de longo prazo, o que pode inclusive promover alterações na articulação induzidas pela carga (WEINECK, 2000). Ao aumentar a amplitude de movimento para a aplicação de um golpe, aumenta-se a distância e o tempo sobre os quais a força pode ser desenvolvida, resultando em maior potência ou velocidade. O músculo mais alongado armazena a energia elástica e a libera produzindo maior força contrátil (BLOMFIELD; WILSON, 2000).
O alongamento estático é amplamente utilizado no meio esportivo e apresenta a vantagem de implicar em pouco risco de lesão na execução do alongamento.
No alongamento inicial o músculo tem sua origem e inserção afastada lentamente até que se alcance o seu limite, mantendo esta posição por 10 segundos. A seguir deve-se exercer leve tensão por período de tempo entre 20 a 30 segundos de forma a permitir a acomodação das propriedades viscoelásticas da musculatura trabalhada. Após a diminuição da tensão parcial, deve-se aumentar a amplitude de movimento e permanecer por mais o mesmo período de tempo – utilizam-se quatro séries na mesma musculatura em cada sessão de treinamento. O retorno à posição inicial deve ser lento e controlado (Figura 1).
Figura 1 – Alongamento estático. |
Os principais grupamentos musculares mais utilizados nas técnicas de karate devem ser exercitados com atenção ao equilíbrio do trabalho alternado na musculatura agonista (a responsável pela força nos golpes) e a musculatura antagonista.
O alongamento balístico (quando há balanceios e insistências na execução) tem a vantagem de aproximar mais do gesto esportivo que necessita da coordenação muscular que envolve a contração e descontração dos agonistas e antagonistas e é capaz de preparar a musculatura para produzir mais força, potência e velocidade (BLOOMFIELD; WILSON, 2000). Por outro lado apresenta maior risco de lesão da musculatura envolvida devido aos movimentos oscilatórios que levam o musculo próximo do extremo de sua capacidade. Neste exercício a musculatura é alongada até o seu limite e a seguir devem-se realizar movimentos oscilatórios de maior tensão e relaxamento.
Figura 2 – Alongamento balístico. |
Deve-se destacar que a flexibilidade resultante do trabalho sistemático de alongamento em longo prazo é fundamental na obtenção de uma técnica mais apurada, no aumento da potência do movimento, da força e da velocidade (BLOOMFIELD; WILSON, 2000). No entanto, um trabalho que tenha por objetivo aumentar a flexibilidade dos praticantes deve ser realizado em sessões específicas dentro do planejamento e não apenas no aquecimento ou no relaxamento. Ou seja, o alongamento realizado no aquecimento e no relaxamento pode não ser suficiente para garantir melhoras significativas na flexibilidade.
Para o treinamento desportivo devem-se levar em consideração os seguintes aspectos (WEINECK, 2000):
• O aumento da mobilidade depende de treinamento que necessita de várias semanas. Segundo Weineck (2000) o ideal seria trabalhar a flexibilidade diariamente ao longo de todo o ano.
• A sessão de alongamento deve ser precedida de aquecimento.
• A elevação da intensidade do alongamento deve ser progressiva.
• A posição inicial do alongamento deve ser assumida de forma lenta e contínua. É prudente evitar forçar a musculatura alongada antes de adaptar o corpo nesta posição por 10 segundos.
A observação assistemática dos treinamentos de karate em diversos dojo (sala de treino) indica que a maioria dos instrutores procura trabalhar o alongamento durante as sessões de treinamento. Desta forma a obtenção dos benefícios deste trabalho para a mobilidade do atleta é inferior aos resultados que podem ser alcançados em treinos cujo foco principal seja o alongamento.
O planejamento do treinamento que procura elevar o rendimento esportivo dos praticantes deve incluir nas sessões planejadas sistematicamente, sessões específicas para o trabalho de mobilidade articular e estiramento.
---
REFERÊNCIAS
BLOOMFIELD, J.; WILSON, G. Flexibilidade nos esportes. In: ELLIOT, B.; MESTER, J. (Ed.). Treinamento no esporte: aplicando ciência no treinamento. Guarulhos, São Paulo: Phorte Editora, 2000. p. 285-333.
WEINECK, J. Biologia do Esporte. São Paulo: Editora Manole, 2000.