terça-feira, 15 de março de 2016

Treinamento de mobilidade e flexibilidade no Karate

Com a evolução do aprendizado, o atleta percebe a necessidade, quase que urgente, de aumentar a sua flexibilidade para, por exemplo, atingir o rosto do adversário com um chute ou mesmo melhorar a postura em determinadas bases, aumentando equilíbrio, força e potência dos golpes.

Sabendo disso, o professor Dr. José Antonio Vianna, preparou o material abaixo para explicar um pouco sobre o assunto.

Uma ótima leitura e bom aprendizado!

Oss...

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O conceito de mobilidade e o conceito de flexibilidade estão relacionados à capacidade de executar movimentos articulares o mais amplamente possível e à capacidade elástica de músculos, ligamentos, tendões e cápsulas articulares. Pode ser citada como benefícios do treinamento da mobilidade e da flexibilidade a maior amplitude de execução dos movimentos, o relaxamento da musculatura antagonista à execução dos golpes favorecendo a produção da força rápida, a melhoria na execução da técnica e a prevenção de lesões. Utilizaremos a seguir o termo flexibilidade para abordar estas questões.

Para obter ganhos na flexibilidade do atleta o treinamento deve ser diário e de longo prazo, o que pode inclusive promover alterações na articulação induzidas pela carga (WEINECK, 2000). Ao aumentar a amplitude de movimento para a aplicação de um golpe, aumenta-se a distância e o tempo sobre os quais a força pode ser desenvolvida, resultando em maior potência ou velocidade. O músculo mais alongado armazena a energia elástica e a libera produzindo maior força contrátil (BLOMFIELD; WILSON, 2000).

O alongamento estático é amplamente utilizado no meio esportivo e apresenta a vantagem de implicar em pouco risco de lesão na execução do alongamento.
No alongamento inicial o músculo tem sua origem e inserção afastada lentamente até que se alcance o seu limite, mantendo esta posição por 10 segundos. A seguir deve-se exercer leve tensão por período de tempo entre 20 a 30 segundos de forma a permitir a acomodação das propriedades viscoelásticas da musculatura trabalhada. Após a diminuição da tensão parcial, deve-se aumentar a amplitude de movimento e permanecer por mais o mesmo período de tempo – utilizam-se quatro séries na mesma musculatura em cada sessão de treinamento. O retorno à posição inicial deve ser lento e controlado (Figura 1).

Figura 1 – Alongamento estático.

Os principais grupamentos musculares mais utilizados nas técnicas de karate devem ser exercitados com atenção ao equilíbrio do trabalho alternado na musculatura agonista (a responsável pela força nos golpes) e a musculatura antagonista.

O alongamento balístico (quando há balanceios e insistências na execução) tem a vantagem de aproximar mais do gesto esportivo que necessita da coordenação muscular que envolve a contração e descontração dos agonistas e antagonistas e é capaz de preparar a musculatura para produzir mais força, potência e velocidade (BLOOMFIELD; WILSON, 2000). Por outro lado apresenta maior risco de lesão da musculatura envolvida devido aos movimentos oscilatórios que levam o musculo próximo do extremo de sua capacidade. Neste exercício a musculatura é alongada até o seu limite e a seguir devem-se realizar movimentos oscilatórios de maior tensão e relaxamento.


Figura 2 – Alongamento balístico.

Deve-se destacar que a flexibilidade resultante do trabalho sistemático de alongamento em longo prazo é fundamental na obtenção de uma técnica mais apurada, no aumento da potência do movimento, da força e da velocidade (BLOOMFIELD; WILSON, 2000). No entanto, um trabalho que tenha por objetivo aumentar a flexibilidade dos praticantes deve ser realizado em sessões específicas dentro do planejamento e não apenas no aquecimento ou no relaxamento. Ou seja, o alongamento realizado no aquecimento e no relaxamento pode não ser suficiente para garantir melhoras significativas na flexibilidade.

Para o treinamento desportivo devem-se levar em consideração os seguintes aspectos (WEINECK, 2000):
O aumento da mobilidade depende de treinamento que necessita de várias semanas. Segundo Weineck (2000) o ideal seria trabalhar a flexibilidade diariamente ao longo de todo o ano.
A sessão de alongamento deve ser precedida de aquecimento.
A elevação da intensidade do alongamento deve ser progressiva.
A posição inicial do alongamento deve ser assumida de forma lenta e contínua. É prudente evitar forçar a musculatura alongada antes de adaptar o corpo nesta posição por 10 segundos.
A observação assistemática dos treinamentos de karate em diversos dojo (sala de treino) indica que a maioria dos instrutores procura trabalhar o alongamento durante as sessões de treinamento. Desta forma a obtenção dos benefícios deste trabalho para a mobilidade do atleta é inferior aos resultados que podem ser alcançados em treinos cujo foco principal seja o alongamento.
O planejamento do treinamento que procura elevar o rendimento esportivo dos praticantes deve incluir nas sessões planejadas sistematicamente, sessões específicas para o trabalho de mobilidade articular e estiramento.

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REFERÊNCIAS
BLOOMFIELD, J.; WILSON, G. Flexibilidade nos esportes. In: ELLIOT, B.; MESTER, J. (Ed.). Treinamento no esporte: aplicando ciência no treinamento. Guarulhos, São Paulo: Phorte Editora, 2000. p. 285-333.
WEINECK, J. Biologia do Esporte. São Paulo: Editora Manole, 2000.